Escrito por Nanci Vellose de Souza
contato:nancivelpsc@gmail.com
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Professora, Pedagoga e Psicopedagoga
Mudar momentaneamente o
formato original do seu cabelo afro, não quer dizer que você esteja negando a
sua identidade negra, e sim que você está exercendo o seu direito de liberdade (tal
qual os outros grupos étnicos o fazem); e ainda está se permitindo ser livre e
se apresentar em público como quiser, ora lisa, ora crespa, mas da maneira que
se sentir feliz naquele momento.
Entendo que o cabelo
crespos seja um traço característicos dos negros, mas não é apenas o cabelo que
me representa enquanto negra.
O lamentável equívoco
está numa linha de pensamento radical que padroniza, “engessa” o negro e limita
suas possibilidades de escolha, afirmando que o negro deve assumir o seu cabelo
crespo sem outras possibilidades de escolha.
Durante um evento em
Florianópolis-SC, tomei conhecimento do desagrado e desentendimento que o
critério de verificação de negros e não negros, (para identificar quem terá
direito às cotas ou não), está causando e pautada nessa discussão podemos nos
apoiar e afirmar que a identidade de uma pessoa não é representada apenas pelo formato
apresentado em seu cabelo afro ou não.
Afinal, o que é
identidade, como somos identificados enquanto negros? Vamos aos conceitos :
“aquilo que diferencia cada um e
nós e só nos iguala a nós mesmos ,
mesmo
que seja entendida num processo de transformação, é da ordem
da
representação e está localizada na consciência... Ela diz respeito à
imagem
como a pessoa se vê no plano subjetivo, como percebe o que
lhe
é próprio enquanto individualidade diferenciada”. (Gomes, 1995
p.42 e 43)
Continuo nos meus
pensamentos e questiono: Se dentro do termo “negro” podemos encaixar vários
tons de pele entre o preto retinto e o pardo com diferentes tons de pele, também
podemos aceitar vários formatos de cabelos com diferentes ondulações e volumes,
indo do crespo menos volumoso ao muito crespo.
Não será o volume dos
cabelos a razão da perda de identidade de um indivíduo negro e sim como foi
construída e entendida a sua identidade, como o indivíduo se aceita. A opção de
estar com os cabelos quimicamente modificados ou diferentes do seu formato
original crespo, não será o fator determinante para a perda de identidade de
ninguém, pois um indivíduo pode se apresentar no cotidiano com os cabelos
lindamente crespos e volumosos e ao ser abordado por um órgão de pesquisas e se
declarar branco por não se aceitar negro, nem mesmo sabendo qual o seu
histórico familiar...
Por fim, vale a
reflexão e o alerta que fica para as linhas radicais de pensamento, que não padronize os negros e negras, que permitam
que as pessoas sejam livres e que vivam
de acordo com suas escolhas, ninguém é obrigado a se apresentar como não deseja
apenas por conta de um padrão socialmente traçado ou para não desagradar o discurso daquela
pessoa que tanto admira....deixe que a
mulher negra seja feliz do jeito que ela quer ser...mulher é como camaleão,
cada dia está de um jeito de acordo com seu estado de espírito...vivam e deixem
os outros viver usufruindo do seu
direito de se expressar como quiser. Uma gosta liso, outra crespo, outra
trançado, outra solto, outra com “mega-hair”, outra passa a chapinha, mas todas são negras e se reconhecem como pertencentes a esse grupo.
O importante ao meu ver
é que a pessoa se entenda enquanto negra, que aceite sua origem, que valorize a
sua história e compreenda a diáspora e seja feliz. Não podemos admitir que uma
pessoa deixe de frequentar um ambiente por que seu cabelo está quimicamente
tratado e será constrangida por outros em virtude de sua escolha.
Não concordo e nem
aceito nenhuma linha radical de pensamento que padroniza pessoas em série, que
limita possibilidades e que distorce conceitos. A história do povo negro já vem
por si só carregada de marcas e dores que não cessam, e espero que não seja
agora a padronização de um formato de cabelo que venha fazer mulheres infelizes
por não poderem fazer valer o seu direito de liberdade de escolha.
Referências
Bibliográficas:
GOMES,
Nilma L. A mulher negra que vi de perto. Belo Horizonte: Maza edições, 1995.
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