quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A IDENTIDADE DA CRIANÇA NEGRA, A FAMÍLIA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS NA ESCOLA.


Escrito por Nanci Vellose de Souza
contato : nancivelpsc@gmail.com
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga
Para abrirmos o tema identidade da criança negra e ações afirmativas na escola, temos que iniciar o assunto voltando para o começo da história de vida de uma criança negra para entendermos alguns pontos importantes; como a criança negra está sendo criada; qual o entendimento sobre quem ela é, sobre sua cor, seus cabelos, suas origens, sobre como ela se vê em relação aos outros, sobre o fator autoestima, que irá determinar se esta criança irá gostar de si e se aceitar, perceber a partir de observações individuais e grupais se esta criança gosta de si com as suas características, e principalmente sondar essa criança para saber o que incutiram em sua cabeça durante o processo de desenvolvimento.
De acordo com o meu entendimento o processo de formação da identidade da criança deverá ser iniciado em casa, antes da chegada da criança ao núcleo de educação infantil e o meio onde essa criança está inserida também será fator determinante para a formação de sua identidade, pois alguns equívocos vistos e ouvidos, poderão lamentavelmente serem repetidos e a criança tende a internalizar o que ouve e vê e reproduzir em seguida.
Muito embora algumas famílias achem que não estão preparadas para tratar sobre o tema identidade, penso que em casa as famílias devam responder de maneira simplificada a todas as perguntas feitas pelas crianças, promover as interações sociais de seus filhos com outros grupos étnicos, fazer com que a caixa de brinquedos seja mesclada com bonecos brancos e negros, que as histórias infantis tragam nos livros os príncipes e as princesas negras juntos aos demais livros e que o convívio com diferentes grupos raciais seja o mais natural possível; esse é segundo o meu olhar o caminho inicial para se dissipar o preconceito.
O ideal seria que quando uma criança, seja ela negra ou branca, chegue ao núcleo de educação infantil ou nos anos iniciais de sua escolarização, já tenha tomado conhecimento que existem diferenças entre as pessoas, que existem vários tons de pele, vários tipos de cabelo, aparências diferentes umas das outras, e que todos deverão conviver no mesmo espaço e se respeitar.
Nos núcleos de educação infantil, ou nos anos iniciais da escolarização, as práticas pedagógicas trarão intencionalmente propostas que levarão as crianças a se observar e a observar o outro e assim surgirão as primeiras problematizações e as posteriores explicações.
Os professores deverão estar preparados para os mais variados questionamentos e ter vasto referencial de leituras para permitir clareza em suas respostas e quando surgirem as questões de preconceito no espaço escolar deverão ser agentes mediadores do problema e se manter imparcial.
Na espaço escolar as ações afirmativas irão se concretizar pelas mãos dos professores, que terão a incumbência de fazer com que todos os grupos se sintam representados no contexto trabalhado, pois quando um indivíduo não se sente representado, ele não se interessa pelo tema, e o nível de interesse e participação baixam muito.
A questão das ações afirmativas, não é muito complicada, a complicação surge a partir do não entendimento. A maneira mais simplificada de entender as ações afirmativas, poderíamos dizer que são aquelas ações pensadas para diminuir ou minimizar as desigualdades, que incluirão pessoas que foram excluídas, seja por fatores econômicos, sociais, raciais entre elas e as ações essas que irão reforçar positivamente o indivíduo, afim de que esse se torne agente de sua história de vida, criando oportunidade de visibilidade e inserção social, a partir de ações motivadoras.
O principal foco da ação afirmativa é fazer com que todos os grupos se vejam representados e possam competir igualmente, ter as mesmas oportunidades sociais e se sentir parte do contexto.
Falar sobre ações afirmativas na escola, quer dizer que temos que abrir discussões sobre esse tema, que é preciso debater, rever o currículo escolar, ir em busca da valorização da identidade negra, fazer com que o negro se orgulhe de ser quem é , de buscar orientação e formação para os professores afim de que os equívocos cometidos nos materiais didáticos e na historicidade da África e dos africanos não sejam repetidos e para que todos os grupos sejam vistos e representados no cotidiano escolar.
Para conseguirmos diminuir registros de casos de bullyng, expressões visíveis de racismo e   preconceito, xenofobia, homofobia, temos que falar sobre o assunto da igualdade racial, sobre os direitos legais adquiridos nos últimos anos e que nos garante o direito de estar em todos os lugares, de sermos tratados igualmente, de vestir o que quisermos, de ter os cabelos volumosos e crespos, enfim, de ser quem somos e como somos, de sermos autênticos...
Valorizar a cultura africana, o processo de aculturação que esse convívio nos proporcionou é a única receita para seguirmos em busca de outras políticas de ações afirmativas. Não podemos mais não mencionar determinados assuntos, temos que falar sobre o que nos incomoda e apenas assim criar possibilidades de resolver os problemas que a sociedade nos apresenta cotidianamente.
 Fpolis,07/17

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