Escrito por
Nanci Vellose de Souza
contato: nancivelpsc@gmail.com
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Professora, Pedagoga e
Psicopedagoga
O objetivo
desse relato de experiência é ressaltar a importância da referência de
professores negros para educandos negros, tanto na primeira infância, quanto em
quaisquer outros estágios de desenvolvimento e formação.
Nessa jornada
na carreira do magistério percebo que a sala os professores poderia ter um tom
mais mesclado entre "pretos e brancos", ou seja, vejo uma disparidade
entre o número de professores negros e brancos no recinto escolar.
Historicamente
esta disparidade quantitativa poderia ser justificada por conta de um período quando
foi negado aos negros o direito de acesso às escolas, mas muito embora esse
fato histórico tenha ocorrido há tanto tempo, ainda não houve uma retomada
total dos espaços para que a representação dos negros no cenário social seja
igualada à ocupação dos demais grupos étnicos.
O que mais
me preocupa nessa análise é que existem espaços a serem ocupados, mas também
existe o recuo por um grande grupo de negros que não se sentem representados
por serem minoria.
Conversando
com uma colega, também professora e negra como eu, percebi nela um "nó na
garganta", um “grito guardado", certa indignação ao perceber a
pequena representatividade de negros no âmbito escolar; que o número de
professores negros no espaço escolar equivale a menos de 1% do total de aproximadamente
90 professores.
Essa
observação incomodou minha colega, mas não me apavora nem intimida, serve como
alerta, pois entendo que se quisermos espaços igualitários, como a lei nos
permite ter, temos que tomar posse dos espaços que queremos para nós e; se
recuarmos sempre, cada hora com uma alegação diferente, não estaremos sendo
merecedores de todo o sacrifício que nossos antepassados fizeram em busca de
liberdade e igualdade de direitos, e sigo nessa reflexão...
Quanto aos
educandos dos anos iniciais (cito 1º ano, seis anos de idade); percebo que os alunos
negros se identificam mais do que os outros com os professores negros, se
aproximam de maneira diferente, mais afetivos, buscando acolhimento próximo a
"um igual" a si. Isso ocorreu comigo principalmente no primeiro
trimestre do ano corrente, quando as crianças estavam recém chegadas das
creches e núcleos de educação infantil, onde o contato e o acolhimento são
diferenciados, principalmente por ser esse um dos primeiros núcleos sociais dos
quais estas crianças pertencem depois de seus núcleos familiares.
Poderíamos
analisar nesse momento alguns aspectos estatísticos e efetivar esse relato com
bases numéricas atuais, mas os números apenas iriam confirmar o que já sabemos,
que há defasagem de negros no magistério, nas universidades, no cenário nas
artes, e em tantos outros espaços....
Com esse
relato eu busco colocar em discussão duas reflexões básicas:
- É preciso
motivar os negros a assumirem os espaços que estão à sua espera, fazer com que
estejam presentes em todos os espaços, se tornem visíveis aos olhos de todos e usufruam
dos benefícios conquistados, através de muita luta.
- Alertar
sobre a necessidade de se apropriarem de sua identidade negra, de reparar as
perdas históricas, de se libertar das antigas amarras e se valorizar enquanto
pessoa e enquanto grupo social de grande representatividade para a história do
Brasil.
Apenas
quando os negros entenderem o peso e o valor da cultura negra (africana e afro-brasileira)
para a História, poderemos então ver todos os espaços sociais e não apenas as
sala dos professores, mesclados igualmente entre "pretos e brancos",
e cabe a cada um de nós negros lutar para equiparar os números e realmente igualar
a ocupação dos espaços sociais por todos os grupos étnicos.
Ainda hoje tenho grandes mestres e doutores negros que me inspiram a seguir adiante e que me servem como referência e sou grata a todos os que lutam pelas causas dos negros e pela educação.
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