...e como sempre o líder foi perseguido. Aquele
que apontou as injustiças, aquele que organizou o resgate dos cativos que
estavam em sofrimento, aquele que “ousou” contrariar o sistema; um “podre
poder” firmado com bases na opressão e na força.
É triste relembrar a
escravidão, mas esse tema já gerou romances por conta do exagero de tantas
dores e sofrimentos, se transformou em tema de inúmeros poemas e também em bandeiras
de lutas e posteriormente foi celebrado pelas vitórias e conquistas.
Trazendo a escravidão
que foi um fato passado na historicidade e contrapondo aos dias atuais, eu digo
que Zumbi foi quem empoderou os cativos, pois foi ele que vislumbrou a
possibilidade de fugir e de maneira organizada lutar para mudar aquela situação
ultrajante na qual os negros escravizados viviam.
Quando fecho os olhos e
me remeto ao passado, consigo
imaginar a organização dos movimentos em prol da
liberdade de negros cativos, a funcionabilidade dos quilombos e o maravilhoso
sistema de ajuda mútua que foi organizado, onde arcando com todas as
consequências, muitos se expunham e lutavam pela vida dos outros, arriscando a
própria vida.
Zumbi foi o líder da
resistência do povo negro e para homenageá-lo que foi escolhida a data de sua
morte (20 de Novembro), para ser o dia da Consciência Negra; mas é preciso compreender que o nome
“Consciência Negra” vai muito além de uma data comemorativa no calendário;
representa atitude, movimento, organização, ações afirmativas constantes em
benefício do povo negro e das suas causas.
Nos dias atuais temos
vários Núcleos que podemos dizer que são representações vivas de Zumbi; pessoas
que diariamente lutam, leem, escrevem e de alguma maneira representam a
resistência contra a opressão dos racistas, pessoas que lutam com toda força,
garra e disposição para empoderar os negros, tornando-os visíveis e inserindo-os
socialmente de maneira igualitária.
De acordo com a diáspora
africana todos nós negros somos “um pouco Zumbi” (por conta da ancestralidade),
todos nós somos seguidores de Zumbi e compartilhamos do sonho de liberdade que
“Ele” sonhou; temos o compromisso da resistência, da resiliência e da luta sem
fim por igualdade.
Zumbi se foi, e seu
legado de luta ficou, e representar a luta de Zumbi é responsabilidade de todos
os negros. Salve Zumbi!
Atualmente
tenho lido muitas notícias, nas mais variadas mídias fazendo relatos sobre a
intolerância, sobre cartazes expostos com manifestações de ódio, sobre
intolerância religiosa, vetos a movimentos de livre expressão, escolas tendo
seus projetos barrados por conta da temática discutida, a liberdade sendo vigiada
num falso discurso democrático que ao mesmo tempo liberta e controla as ações
populares, e todos esses fatos ao mesmo tempo que me indigna e amedronta. Será
que vamos presenciar os horrores vividos na época da ditadura?
Depois
de tantas discussões, lutas, resistência e ações buscando liberdade de
expressão e igualdades de direitos a todos; retroceder seria muito triste.
O
que mais me preocupa é a disseminação de ideias ruins, sendo propagadas abertamente
e abrindo possibilidades para que outras pessoas que tenham incutidos em si o
racismo, o preconceito e a intolerância se sintam fortalecidas a se juntar aos “tais
grupos” e façam avivar em si aqueles antigos sentimentos de ódio que há muito
tempo estavam adormecidos; e a situação realmente comece a se complicar.
Vivemos
num mundo onde os nossos ideais não são os mesmos, nem tão pouco as nossas
crenças, valores e escolhas, mas é preciso acreditar que as nossas diferenças
não nos tornam inimigos, que a cor de nossa pele não nos faz inferiores ou
superiores uns aos outros, que a opção sexual de um indivíduo não o diminui,
que todos os grupos étnicos devem ser valorizados e suas histórias respeitadas.
Somos todos iguais.
Os
assuntos que nos séculos passados eram tabus, hoje são tratados abertamente, o
que nos incomoda deve ser trazido a mesa para discussões, o vão que nos separa
por divergentes opiniões não pode ser maior que os laços que nos unem enquanto
cidadãos que vivem numa democracia e que por lei devem ter os seus direitos a
livre expressão preservados e garantidos.
Não
tenho lindas palavras para falar de algo que me desagrada, mas tenho claro em mim
o sentimento de tristeza e medo de ver cada dia as fontes de notícias
divulgando que a intolerância levou os homens ao caos, e me envergonho ao
pensar que se tudo seguir nesse compasso, num futuro bem próximo todas as
pessoas não mais se respeitarão, se atacarão, se ofenderão e não poderão se
manifestar publicamente nem opinar sobre aquilo que acreditam.
Me
esforço para acreditar que a Segurança Pública irá garantir os nossos direitos
legais, de ir e vir, de nos expressarmos livremente e que irão nos salvaguardar
de ataques de racismo, preconceito, ódio e todos os tipos de intolerância e
espero que venham dias melhores ...
Escrito por Nanci Vellose de Souza contato:nancivelpsc@gmail.com
Professora, Pedagoga e Psicopedagoga
Mudar momentaneamente o
formato original do seu cabelo afro, não quer dizer que você esteja negando a
sua identidade negra, e sim que você está exercendo o seu direito de liberdade (tal
qual os outros grupos étnicos o fazem); e ainda está se permitindo ser livre e
se apresentar em público como quiser, ora lisa, ora crespa, mas da maneira que
se sentir feliz naquele momento.
Entendo que o cabelo
crespos seja um traço característicos dos negros, mas não é apenas o cabelo que
me representa enquanto negra.
O lamentável equívoco
está numa linha de pensamento radical que padroniza, “engessa” o negro e limita
suas possibilidades de escolha, afirmando que o negro deve assumir o seu cabelo
crespo sem outras possibilidades de escolha.
Durante um evento em
Florianópolis-SC, tomei conhecimento do desagrado e desentendimento que o
critério de verificação de negros e não negros, (para identificar quem terá
direito às cotas ou não), está causando e pautada nessa discussão podemos nos
apoiar e afirmar que a identidade de uma pessoa não é representada apenas pelo formato
apresentado em seu cabelo afro ou não.
Afinal, o que é
identidade, como somos identificados enquanto negros? Vamos aos conceitos :
“aquilo que diferencia cada um e
nós e só nos iguala a nós mesmos ,
mesmo
que seja entendida num processo de transformação, é da ordem
da
representação e está localizada na consciência... Ela diz respeito à
imagem
como a pessoa se vê no plano subjetivo, como percebe o que
lhe
é próprio enquanto individualidade diferenciada”. (Gomes, 1995
p.42 e 43)
Continuo nos meus
pensamentos e questiono: Se dentro do termo “negro” podemos encaixar vários
tons de pele entre o preto retinto e o pardo com diferentes tons de pele, também
podemos aceitar vários formatos de cabelos com diferentes ondulações e volumes,
indo do crespo menos volumoso ao muito crespo.
Não será o volume dos
cabelos a razão da perda de identidade de um indivíduo negro e sim como foi
construída e entendida a sua identidade, como o indivíduo se aceita. A opção de
estar com os cabelos quimicamente modificados ou diferentes do seu formato
original crespo, não será o fator determinante para a perda de identidade de
ninguém, pois um indivíduo pode se apresentar no cotidiano com os cabelos
lindamente crespos e volumosos e ao ser abordado por um órgão de pesquisas e se
declarar branco por não se aceitar negro, nem mesmo sabendo qual o seu
histórico familiar...
Por fim, vale a
reflexão e o alerta que fica para as linhas radicais de pensamento, que não padronize os negros e negras, que permitam
que as pessoas sejam livres e que vivam
de acordo com suas escolhas, ninguém é obrigado a se apresentar como não deseja
apenas por conta de um padrão socialmente traçado ou para não desagradar o discurso daquela
pessoa que tanto admira....deixe que a
mulher negra seja feliz do jeito que ela quer ser...mulher é como camaleão,
cada dia está de um jeito de acordo com seu estado de espírito...vivam e deixem
os outros viver usufruindo do seu
direito de se expressar como quiser. Uma gosta liso, outra crespo, outra
trançado, outra solto, outra com “mega-hair”, outra passa a chapinha, mas todas são negras e se reconhecem como pertencentes a esse grupo.
O importante ao meu ver
é que a pessoa se entenda enquanto negra, que aceite sua origem, que valorize a
sua história e compreenda a diáspora e seja feliz. Não podemos admitir que uma
pessoa deixe de frequentar um ambiente por que seu cabelo está quimicamente
tratado e será constrangida por outros em virtude de sua escolha.
Não concordo e nem
aceito nenhuma linha radical de pensamento que padroniza pessoas em série, que
limita possibilidades e que distorce conceitos. A história do povo negro já vem
por si só carregada de marcas e dores que não cessam, e espero que não seja
agora a padronização de um formato de cabelo que venha fazer mulheres infelizes
por não poderem fazer valer o seu direito de liberdade de escolha.
Referências
Bibliográficas:
GOMES,
Nilma L. A mulher negra que vi de perto. Belo Horizonte: Maza edições, 1995.
Nanci Vellose de Souza contato: nancivelpsc@gmail.com
Professora, Pedagoga e
Psicopedagoga
O objetivo
desse relato de experiência é ressaltar a importância da referência de
professores negros para educandos negros, tanto na primeira infância, quanto em
quaisquer outros estágios de desenvolvimento e formação.
Nessa jornada
na carreira do magistério percebo que a sala os professores poderia ter um tom
mais mesclado entre "pretos e brancos", ou seja, vejo uma disparidade
entre o número de professores negros e brancos no recinto escolar.
Historicamente
esta disparidade quantitativa poderia ser justificada por conta de um período quando
foi negado aos negros o direito de acesso às escolas, mas muito embora esse
fato histórico tenha ocorrido há tanto tempo, ainda não houve uma retomada
total dos espaços para que a representação dos negros no cenário social seja
igualada à ocupação dos demais grupos étnicos.
O que mais
me preocupa nessa análise é que existem espaços a serem ocupados, mas também
existe o recuo por um grande grupo de negros que não se sentem representados
por serem minoria.
Conversando
com uma colega, também professora e negra como eu, percebi nela um "nó na
garganta", um “grito guardado", certa indignação ao perceber a
pequena representatividade de negros no âmbito escolar; que o número de
professores negros no espaço escolar equivale a menos de 1% do total de aproximadamente
90 professores.
Essa
observação incomodou minha colega, mas não me apavora nem intimida, serve como
alerta, pois entendo que se quisermos espaços igualitários, como a lei nos
permite ter, temos que tomar posse dos espaços que queremos para nós e; se
recuarmos sempre, cada hora com uma alegação diferente, não estaremos sendo
merecedores de todo o sacrifício que nossos antepassados fizeram em busca de
liberdade e igualdade de direitos, e sigo nessa reflexão...
Quanto aos
educandos dos anos iniciais (cito 1º ano, seis anos de idade); percebo que os alunos
negros se identificam mais do que os outros com os professores negros, se
aproximam de maneira diferente, mais afetivos, buscando acolhimento próximo a
"um igual" a si. Isso ocorreu comigo principalmente no primeiro
trimestre do ano corrente, quando as crianças estavam recém chegadas das
creches e núcleos de educação infantil, onde o contato e o acolhimento são
diferenciados, principalmente por ser esse um dos primeiros núcleos sociais dos
quais estas crianças pertencem depois de seus núcleos familiares.
Poderíamos
analisar nesse momento alguns aspectos estatísticos e efetivar esse relato com
bases numéricas atuais, mas os números apenas iriam confirmar o que já sabemos,
que há defasagem de negros no magistério, nas universidades, no cenário nas
artes, e em tantos outros espaços....
Com esse
relato eu busco colocar em discussão duas reflexões básicas:
- É preciso
motivar os negros a assumirem os espaços que estão à sua espera, fazer com que
estejam presentes em todos os espaços, se tornem visíveis aos olhos de todos e usufruam
dos benefícios conquistados, através de muita luta.
- Alertar
sobre a necessidade de se apropriarem de sua identidade negra, de reparar as
perdas históricas, de se libertar das antigas amarras e se valorizar enquanto
pessoa e enquanto grupo social de grande representatividade para a história do
Brasil.
Apenas
quando os negros entenderem o peso e o valor da cultura negra (africana e afro-brasileira)
para a História, poderemos então ver todos os espaços sociais e não apenas as
sala dos professores, mesclados igualmente entre "pretos e brancos",
e cabe a cada um de nós negros lutar para equiparar os números e realmente igualar
a ocupação dos espaços sociais por todos os grupos étnicos.
Ainda hoje tenho grandes mestres e doutores negros que me inspiram a seguir adiante e que me servem como referência e sou grata a todos os que lutam pelas causas dos negros e pela educação.
Escrito por Nanci Vellose
de Souza contato : nancivelpsc@gmail.com Professora, Pedagoga e
Psicopedagoga
Para
abrirmos o tema identidade da criança negra e ações afirmativas na escola,
temos que iniciar o assunto voltando para o começo da história de vida de uma
criança negra para entendermos alguns pontos importantes; como a criança negra
está sendo criada; qual o entendimento sobre quem ela é, sobre sua cor, seus
cabelos, suas origens, sobre como ela se vê em relação aos outros, sobre o
fator autoestima, que irá determinar se esta criança irá gostar de si e se
aceitar, perceber a partir de observações individuais e grupais se esta criança
gosta de si com as suas características, e principalmente sondar essa criança
para saber o que incutiram em sua cabeça durante o processo de desenvolvimento.
De acordo
com o meu entendimento o processo de formação da identidade da criança deverá
ser iniciado em casa, antes da chegada da criança ao núcleo de educação
infantil e o meio onde essa criança está inserida também será fator determinante
para a formação de sua identidade, pois alguns equívocos vistos e ouvidos,
poderão lamentavelmente serem repetidos e a criança tende a internalizar o que
ouve e vê e reproduzir em seguida.
Muito
embora algumas famílias achem que não estão preparadas para tratar sobre o tema
identidade, penso que em casa as famílias devam responder de maneira
simplificada a todas as perguntas feitas pelas crianças, promover as interações
sociais de seus filhos com outros grupos étnicos, fazer com que a caixa de
brinquedos seja mesclada com bonecos brancos e negros, que as histórias
infantis tragam nos livros os príncipes e as princesas negras juntos aos demais
livros e que o convívio com diferentes grupos raciais seja o mais natural
possível; esse é segundo o meu olhar o caminho inicial para se dissipar o
preconceito.
O ideal
seria que quando uma criança, seja ela negra ou branca, chegue ao núcleo de
educação infantil ou nos anos iniciais de sua escolarização, já tenha tomado
conhecimento que existem diferenças entre as pessoas, que existem vários tons
de pele, vários tipos de cabelo, aparências diferentes umas das outras, e que
todos deverão conviver no mesmo espaço e se respeitar.
Nos núcleos
de educação infantil, ou nos anos iniciais da escolarização, as práticas
pedagógicas trarão intencionalmente propostas que levarão as crianças a se
observar e a observar o outro e assim surgirão as primeiras problematizações e
as posteriores explicações.
Os
professores deverão estar preparados para os mais variados questionamentos e
ter vasto referencial de leituras para permitir clareza em suas respostas e
quando surgirem as questões de preconceito no espaço escolar deverão ser
agentes mediadores do problema e se manter imparcial.
Na espaço
escolar as ações afirmativas irão se concretizar pelas mãos dos professores,
que terão a incumbência de fazer com que todos os grupos se sintam representados
no contexto trabalhado, pois quando um indivíduo não se sente representado, ele
não se interessa pelo tema, e o nível de interesse e participação baixam muito.
A questão
das ações afirmativas, não é muito complicada, a complicação surge a partir do
não entendimento. A maneira mais simplificada de entender as ações afirmativas,
poderíamos dizer que são aquelas ações pensadas para diminuir ou minimizar as
desigualdades, que incluirão pessoas que foram excluídas, seja por fatores
econômicos, sociais, raciais entre elas e as ações essas que irão reforçar
positivamente o indivíduo, afim de que esse se torne agente de sua história de
vida, criando oportunidade de visibilidade e inserção social, a partir de ações
motivadoras.
O principal
foco da ação afirmativa é fazer com que todos os grupos se vejam representados e
possam competir igualmente, ter as mesmas oportunidades sociais e se sentir
parte do contexto.
Falar sobre
ações afirmativas na escola, quer dizer que temos que abrir discussões sobre
esse tema, que é preciso debater, rever o currículo escolar, ir em busca da
valorização da identidade negra, fazer com que o negro se orgulhe de ser quem é
, de buscar orientação e formação para os professores afim de que os equívocos
cometidos nos materiais didáticos e na historicidade da África e dos africanos não
sejam repetidos e para que todos os grupos sejam vistos e representados no
cotidiano escolar.
Para
conseguirmos diminuir registros de casos de bullyng, expressões visíveis de
racismo e preconceito, xenofobia, homofobia,
temos que falar sobre o assunto da igualdade racial, sobre os direitos legais
adquiridos nos últimos anos e que nos garante o direito de estar em todos os
lugares, de sermos tratados igualmente, de vestir o que quisermos, de ter os
cabelos volumosos e crespos, enfim, de ser quem somos e como somos, de sermos
autênticos...
Valorizar a
cultura africana, o processo de aculturação que esse convívio nos proporcionou
é a única receita para seguirmos em busca de outras políticas de ações
afirmativas. Não podemos mais não mencionar determinados assuntos, temos que
falar sobre o que nos incomoda e apenas assim criar possibilidades de resolver
os problemas que a sociedade nos apresenta cotidianamente.
Com tradução de Raquel Souza e transcrição feitas pelas ativistas Carol Correia e Monyque Assis, leia a palestra “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo” de Angela Davis, no Julho das Pretas, em 25 de julho de 2017, no salão nobre da reitoria de UFBA, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres Afrolatinas e Caribenhas
Introdução da palestrante [palavras da própria gravação]
Angela
Davis é filósofa, ativista feminista e defensora dos direitos civis da
população negra. Fez parte do Panteras Negras e do Partido Comunista dos
Estados Unidos. Em 1970, foi perseguida e presa. Ativistas tomaram as
ruas exigindo: “Libertem Angela Davis!”. Publicou em 1981 uma de suas
mais importantes obras: “Mulheres, Raça e Classe”. O livro transmite sua
militância em defesa das políticas de igualdade de gênero e combate ao
racismo. Considera que raça, classe e gênero estão entrelaçados e que
juntos podem criar diferentes tipos de opressão.
Palestra em homenagem ao dia 25 de julho, Dia da Mulher Afro-Latina e Caribenha.
Boa
noite. Eu não consigo dizer a vocês quão emocionada eu estou em estar
na presença de vocês essa noite. Isso certamente é como deveria ser a
aparência de uma Universidade. Eu gostaria de agradecer Ângela
Figueiredo, a Odara, ao Centro de Estudos de Gênero da UFBA, por me
convidar para vir aqui e homenagear o dia 25 de julho. Essa é minha
quarta visita a Bahia e a minha sexta visita ao Brasil e nesse momento
eu me sinto extremamente envergonhada por ainda não ter aprendido
português. Então esse será meu próximo projeto!
Eu estou muito feliz de estar aqui celebrando o Dia de Mulheres Afro-Latinas e Caribenhas e eu sei que aqui esse dia é conhecido como Julho das Pretas.
Então eu estou muitíssimo entusiasmada de estar aqui no Brasil,
especialmente porque eu tenho acompanhado recentes situações dentro do
Movimento de Mulheres Negras e me parece que, nesse momento
contemporâneo, as mulheres negras brasileiras representam o futuro do
Movimento.
Mulheres
negras no Brasil têm uma história bastante longa em envolvimento em
lutas em prol da liberdade. Como tem sido simbolizada pela continuidade
da Irmandade da Boa Morte. O conceito de Boa Morte em si nos faz
imaginar um futuro melhor. Isso me leva a reconhecer as amplas
contribuições das mulheres negras no Brasil e na Bahia em termos da
cultura religiosa desse local. Durante essa visita eu fui honrada com a
possibilidade de atender uma oficina dentro da Irmandade da Boa Morte.
E,
também, em de passar tempo com Dona Dalva com quem tive a oportunidade
de aprender sobre o papel de Dona Dalva em preservar o samba de roda e
ela recebeu um diploma de doutorado honoris causa
pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Eu gostaria de
ressaltar que alguns anos atrás fui honrada pelo convite de conhecer o
terreiro e de me encontrar com Mãe Estela. E elas me
disseram sobre seus esforços de preservar a cultura e a religiosidade
dentro das tradições baianas e que as mulheres negras estavam no cerne
dessas tradições.
Como
foi dito por Dulce Pereira, eu já venho ao Brasil desde 1997 e eu nunca
irei me esquecer daquele encontro que ocorreu em 1997 em São Luís no
Maranhão. Tive a oportunidade de encontrar Luísa Barros pela primeira
vez e o espírito delacontinua a viver e a estar aqui
presente conosco.
E
também encontrei pela primeira vez, Vilma Reis e tantas outras mulheres
negras maravilhosas, em qual eu continuo a me encontrar todas as vezes
em que venho ao Brasil.
A
atual visita organizada pela Professora Doutora Ângela Figueiredo foi
um encontro organizado em conexão a uma reunião mais ampla, a um curso
organizado em Cachoeira sobre Feminismo Negro Decolonial. E eu agradeço a
Ângela, em que toda vez que alguém chama seu nome [de Ângela
Figueiredo], eu também olho, mas eu agradeço a ela por ter me convidado
de novo e de novo para vir a Bahia. As pessoas me perguntam “você já foi
ao Rio de Janeiro”, eu digo “não”; “você já foi a São Paulo?”, eu digo
“não, mas eu já fui a Salvador, Bahia, várias e várias vezes”.
Eu
menciono essa escolha porque ela reuniu estudantes negras do Brasil, da
América do Sul, da África do Sul, do Canadá, dos Estados Unidos e do
Porto Rico e, ao fazê-lo, produzir concepções importantes que poderiam
não ter sido disponibilizadas, se esse encontro não fosse corrido. Todos
nós que tivemos a oportunidade de virmos de outras partes
do mundo, temos muita sorte de estarmos aqui nesse momento, onde o
ativismo de mulheres negras está elevado; a gente está pela gente.
E como já foi dito e reiterado várias vezes, o movimento social liderado por mulheres negras é o movimento social mais importante do Brasil.
Após
o Golpe antidemocrático que resultou na retirada de Dilma Rousseff,
após a ocorrência desse golpe de Estado, as mulheres negras criaram a
melhor esperança para esse país. Muitas de nós nos Estados Unidos
estávamos muito entusiasmadas acompanhando a Marcha das Mulheres Negras
no Brasil em novembro de 2015 e nós continuamos a sentir as
reverberações dessa marcha e estamos no Julho das Pretas.
Este
é um momento difícil para o nosso planeta por vários motivos,
principalmente em função de termos uma guinada para a
Direita na Europa, nos Estados Unidos, na América do Sul, especialmente
aqui no Brasil.
Eu
não tenho nem como explicar para vocês qual é a sensação de
morar nos Estados Unidos, no qual Donald Trump é o presidente, mas não
devemos nos esquecer que um dia após a posse dele, o
Movimento de Mulheres trouxe para Washington três vezes mais pessoas do
que o número que atendeu a cerimônia de posse de Donald Trump. Estima-se
que mais de 5 milhões de pessoas participaram na Marcha das Mulheres
contra Trump por todo o mundo, até na Antártica.
A
Marcha das Mulheres em Washington foi liderada por mulheres negras,
latinas, asiáticas, indígenas, muçulmanas e também mulheres brancas. Nós
nos encontramos em Washington e por todo o mundo de todos os países para
dizer que: "Nós resistiremos, nós resistiremos! Todos os dias da
presidência de Donald Trump, nós resistiremos! Nós resistiremos ao
racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado. Nós
resistiremos a islamofobia e ao preconceito contra pessoas portadoras de
deficiências físicas e nós defenderemos o meio ambiente dos ataques
insistentes e predatórios do capital."
Aqui
em Salvador, no dia 25 de julho, o dia dedicado às mulheres negras na
América Latina e no Caribe, dizemos de forma ainda mais forte, com a
força e o poder das mulheres negras nessa região: Nós resistiremos! Nós
sabemos que as transformações históricas sempre começam com as pessoas,
essa é a mensagem do Movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matter), quando
as vidas negras começarem a realmente ter importância, isso significará
que todas as vidas têm importância. E podemos dizer também,
especificamente, que quando as vidas das mulheres negras importam, então
o mundo será transformado e nós teremos a certeza, então, que todas as
vidas importarão. As lutas das mulheres negras estão conectadas às lutas de pessoas oprimidas em todas as partes.
Para
aqueles que dizem não às políticas anti-imigração de Donald Trump e a
construção de seu muro; para aqueles que dizem não ao apartheid e
para o muro que está separando a ocupação Palestina — Israel; para
aqueles que dizem não ao racismo e a misoginia na Colômbia; para aqueles
que dizem não ao sistema de castas na Índia; e nós estamos em
solidariedade com as mulheres dalit e suas comunidades; para aquelas que
dizem não à violência cotidiana, à violência doméstica eà violência
íntima, que incidem sobre as mulheres negras e que geralmente são
perpetuadas por homens negros.
Assim
como, finalmente tem sido reconhecido as mulheres negras pelo trabalho
que sempre desenvolveram em manter as chamas de liberdade ardentes, a
liderança das mulheres negras nos movimentos antirracistas tem
finalmente sido reconhecida, não é o tipo de liderança que tenta dar
visibilidade ou poder a indivíduos, não é o tipo de liderança que é
baseado em carisma, o individualismo masculino carismático, mas é o tipo
de liderança que enfatiza as intervenções coletivas e apoia as
comunidades que estão em luta.
"A
liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva"
A
liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva. Tanto no Brasil
quanto nos Estados Unidos, reconhecemos a importância de confrontar a
violência do Estado. Enquanto o racismo está saturando todas as
nossas instituições, a questão da moradia, do emprego, da assistência de
saúde e acesso à educação e, que pode ser mais dramaticamente, de
policiamento e punição.
Mulheres
negras têm propiciado liderança contra a violência estatal, contra a
violência policial, contra o racismo no sistema carcerário, tanto nos
Estados Unidos quanto no Brasil. Eu tenho falado aqui sobre a liderança
das mulheres negras, mas eu deveria estar me referindo a liderança
feminista negra; enquanto é necessário enfatizar a categoria de mulheres
negras, pela perspectiva de gênero e de raça, nós reconhecemos que
também estamos estão aplicados nisso: classe, sexualidade, capacidade e o
gênero para além do convencional binário e que nosso foco é nas
mulheres negras empobrecidas, incluindo as mulheres negras que estão
encarceradas, incluindo mulheres negras gays, incluindo mulheres negras
trans, incluindo mulheres negras portadoras de deficiência.
Mas
também estamos conscientes de que não estamos focando na mulher negra
através de um arcabouço separatista, porque as mulheres negras também
estão se engajando nos movimentos de outros grupos; as vezes ao ponto de
elas mesmas serem ignoradas nesse movimento.
As
mulheres negras estão entre o grupo mais ignorados, subjugados e também
os mais atacados no planeta. As mulheres negras estão entre os grupos
mais não-libertos do mundo, mas ao mesmo tempo as mulheres negras têm
uma trajetória que perpassa barreiras geográficas e da nação de sempre
manter a esperança da liberdade viva.
As
mulheres negras representam tanto a falta de liberdade e, ao mesmo
tempo, as mesmas consistentes nessa tradição de que foi rompida pela
luta à liberdade, desde o tempo da colonização, da escravidão e até o
presente.
Lembramo-nos
de Rosa Parks que sempre enfatizou que ela gostaria de ser relembrada
como mulher que queria ser livre, de tal forma que todas as pessoas
pudessem ser livres. Lembre-nos de Lilian Ngoyi, uma das mulheres que
foram líderes do Movimento Anti-Passe, na África do Sul, que disse em
1956, entre todas as suas outras irmãs “agora que vocês atingiram as
mulheres, você acionou um trator e você será esmagado!”. Carolina Maria
de Jesus nos lembrou que a fome deveria nos levar a refletir sobre as
crianças e sobre o futuro. E muito tempo antes do conceito de
interseccionalidade ter sido utilizado, Lélia González não apenas
insistia que não só deveríamos compreender que a completa inter-relação
de raça, classe e gênero; mas insistia também que deveríamos ter em
mente as nossas conexões, os nossos elos com a comunidade indígena; as
conexões com os povos indígenas e os povos negros. E essa é uma das
lições que nós dos Estados Unidos precisamos aprender com a história do
feminismo negro no Brasil.
O que me leva a minha próxima questão: Existem
geralmente a pressuposição que a forma mais avançada de feminismo negro
será encontrada nos Estados Unidos. É verdade que há muitas figuras
bastantes conhecidas norte-americanas que são associadas ao
desenvolvimento do feminismo negro. Mas deveria ser reconhecido que isso
não se dá pelo fato de sermos mais avançados; isso seria uma
pressuposição imperialista e colonial. Mas na verdade, isso ocorre
porque as ideias de lá, sejam elas conservadoras ou radicais, viajam e
circulam com muita mais facilidade do que as ideias que emergem e
emanam, por exemplo, daqui do Brasil. Então, eu não posso me levar tão a
sério assim.
No
que diz respeito a mim, eu sempre gosto de apontar que ninguém jamais
teria reconhecido meu nome, se as pessoas de todo o mundo não tivessem
se organizado e se juntaram a luta, exigindo a minha liberdade no início
dos anos 1970. É verdade que cada uma dessas viagens que fiz ao Brasil
tem me trazido muitos insights, muitas perspectivas novas.
Desde
a primeira conferência organizada por Leila Gonzáles em 1997 no
Maranhão, até a escola do feminismo negro descolonial que participei
agora recentemente em Cachoeira. E portanto, a partir disso, passo a
questionar o meu papel em trazer o conhecimento feminista negro para o
Brasil. Passei a perceber que nós nos Estados Unidos somos aquelas que
necessitamos aprender com o conhecimento e os insights que são produzidos pela longa história de luta feminista negra no brasil. Nós precisamos conhecer sobre o poder Feminista Negro
preservado dentro da tradição do Candomblé. Nós precisamos aprender
sobre os movimentos bem sucedidos organizados por mulheres negras
trabalhadoras domésticas aqui na Bahia e no Brasil.
Eu
tive o privilégio de conhecer Marinalva Barbosa que é a presidente do
Movimento do Sindicato de trabalhadoras domésticas aqui na Bahia, temos
muito a aprender com o trabalho dessas mulheres porque nós ainda não
conseguimos nos organizar de maneira bem sucedida através de sindicatos
dessa categoria nos Estados Unidos.
Apesar
do fato de que mulheres negras que trabalhavam como lavadores e fizeram
uma greve em 1988 em Atlanta na Geórgia, mesmo apesar do fato de que
nos anos 1920 e nos anos 1950 houveram esforços que não foram bem
sucedidos de organizar sindicatos dessa categoria. Não é uma
coincidência que Alicia Garza, uma das fundadoras do movimento Black Lives Matter, mesmo assim ainda não temos um sindicato de trabalhadoras domesticas.
Deixe-me
compartilhar com vocês algumas palavras sobre o complexo industrial
prisional; está correto afirmar que o Brasil tem a quarta população
carcerária do mundo. A quarta, sendo a primeira EUA, Rússia e China.
Agora, os EUA estão comportando 1/4 de toda a população carcerária do
mundo.
E
se olhamos para a população carcerária feminina, 1/3 dessa população
está sendo encarcerada nos EUA. Se tivéssemos tempo, essa noite
poderíamos falar mais aprofundadamente sobre o fato de que de essa
população carcerária reflete o tipo de sistema capitalista global e como
esse sistema negligencia as necessidades humanas.
Populações
que não tem acesso à educação, a moradia ou ao sistema de saúde ou a
quaisquer outros serviços que são necessários a vida humana. A rede
carcerária mundial representa um vasto depósito de lixo, nos quais
pessoas que não tem importância são depositadas, descartadas. As pessoas
que tem a menor importância são as pessoas negras, sul-americanos,
muçulmanos, pessoas de descendência indígena. Quando nós trabalhamos e
lutamos contra violência do Estado e como ela se manifesta através das
práticas policiais e das práticas de encarceramento, nós dizemos que as
pessoas negras importam, que as pessoas de descendência indígena
importam.
A
professora Denise Carrascosa, que é professora aqui na Universidade
Federal da Bahia, que tem liderado um projeto de mulheres dentro do
sistema carcerário, um projeto teatral dentro do sistema carcerário,
chamado corpos indóceis e mentes livres,
é um projeto entusiasmante que reúne mulheres encarceradas de tal forma
que elas possam dramatizar suas realidades e suas vidas., esses são os
tipos de projetos inovadores que produzem conhecimentos feministas sobre
a relação entre a liberdade e a não-liberdade.
E
eu acabei de ser informada que a professora Carrascosa tem sido
impedida de entrar nesse Complexo Prisional Feminino na Bahia porque ela
se juntou a outras encarceradas em protesto contra o tratamento
punitivo de uma mulher que foi trancada e a ela foi negada medicação
necessária pós cirúrgicos. E em função da professora Carrascosa ter
levantado sua voz, o seu projeto que já dura 7 anos foi barrado.
Então,
eu gostaria de perguntar a vocês o que vocês farão em relação a essa
situação? Eu gostaria de sugerir que vocês começassem a pedir a cada uma
das pessoas que estão presentes aqui nesse auditório para assinar um
abaixo-assinado exigindo que esse projeto seja reincorporado. Sabemos
que nos últimos dez anos houve um aumento de 500% na taxa de
encarceramento de mulheres e 2/3 de todas as mulheres que estão
encarceradas no Brasil são mulheres negras.
Então, isso me leva aos meus dois últimos pontos em conclusão.
Um
deles diz respeito a reprodução da violência, nós não podemos excluir a
violência doméstica, a violência no âmbito íntimo e a violência intima
das nossas teorias sobre violência estatal e a violência institucional.
Frequentemente
agimos como se um não tivesse nada a ver com o outro e que se as
mulheres negras são vítimas dessa violência cotidiana que é infligida
por seus maridos e seus namorados, isso significa simplesmente que os
homens negros e os rapazes negros são violentos.
Mas
como é que podemos pensar isso? Nós precisamos nos perguntar qual é a
fonte dessa violência que prejudica e que fere tantas mulheres negras?
Qual a relação dessa violência com a violência policial e a violência do
sistema carcerário? Se essa violência do âmbito doméstico esta
simbioticamente conectada com a violência institucional e a violência
estatal?
Isso
significa que nós não conseguiremos erradicar a violência doméstica
simplesmente por enviar aqueles que perpetuam a violência doméstica para
o sistema carcerário. Isso significa que se queremos, se desejamos
erradicar as formas mais endêmicas de violência individual na face da
terra, devemos também eliminar as fontes institucionais de violência.
Esse
é um chamado pela abolição do encarceramento como forma dominante de
punição. Este é um chamado para pensarmos novas formas de abordar
aqueles que são feridos a violência. Esta é a chamada feminista negra
para formas de justiças descoloniais que não sejam de retribuição
vingativa.
Meu
último ponto será breve e diz respeito aos esforços para conter a nossa
resistência. Quando nós resistimos, instituições dominantes e
principalmente o estado tentam nos conter, tentam conter a nossa
resistência. Querem transformar as nossas lutas em estratégias para
consolidação do estado nação.
O
movimento de direitos civis agora é aclamado pelo Estado ou
reivindicado pelo estado como central em suas narrativas sobre a
democracia. Mas o movimento Black LIves Matter, principalmente na Era Trump é vivenciado ou narrado como um ataque.
No
Brasil, agora que o mito na democracia racial foi completamente
exposto, a pergunta agora diz respeito à se o movimento de resistência
das mulheres negras pode ser assimilado, então dizemos que a medida que
nos erguemos contra o racismo, nós não estamos reivindicando sermos
inclusas numa sociedade racista.
Se
dizemos não ao heteropatriarcado, então não estamos desejosas de sermos
assimiladas em uma sociedade que é profundamente misógina e
profundamente patriarcal. Se dizemos não a pobreza, nós não queremos ser
contidas dentro de uma estrutura capitalista que valoriza muito mais o
lucro do que os seres humanos.
E
se reconhecemos que aqueles que queriam resolver o problema da
escravidão através da criação de formas mais humanas de escravidão, nós
estamos simplesmente utilizando a lógica do racismo.
Nós
reconhecemos aqueles que estão simplesmente reivindicando a reforma do
sistema policial e a reforma do sistema carcerário, reter se nessas
estruturas racistas ao mesmo tempo em que estão fingindo abordar os
problemas do racismo, é por isso que dizemos não ao feminismo carcerário
e sim ao feminismo abolicionista.
É
por isso que nós convocamos essa solidariedade para além de fronteiras
nacionais e nós enfatizamos que o feminismo radical negro descolonial
reconhece as nossas profundas conexões mesmo à medida que reconhecemos
também as suas contradições.
Então,
afirmamos que a luta para o acesso a água em comunidade quilombolas, no
quilombo Rio dos Macacos, e essa comunidade está sendo assegurada de
forma a colocar o rotulo de todos os membros dessa comunidade como
terroristas, e eu tenho aqui em minhas mãos um apelo que vem da
comunidade do Rio dos Macacos, em termo dos direitos humanos, do acesso à
terra e a água. E eu vou ler essa carta aqui imediatamente, após o
encerramento desse evento, eu lerei essa carta.
Mas
o que eu gostaria de dizer sobre as lutas que estão ocorrendo dentro
dessa comunidade, estão ligadas as reivindicações para a proteção da
água em populações indígenas, por populações indígenas reivindicando
proteção do veneno trazido pelos dutos de petróleo.
E vocês podem estar familiarizadas com a situação da reserva Standing Rocks
em Sioux e essas lutas estão ligadas também aos esforços que ocorrem em
Flent Michigan para expor o envenenamento da água nas comunidades
negras e essa luta também está ligada à luta na qual as comunidades
palestinas estão engajadas para defender seus reservatórios de água que
são constantemente alvo das forças militares de Israel.
Então,
somente através da solidariedade e da luta, nós poderemos preservar o
nosso acesso a água. Eu gostaria de enfatizar a minha felicidade de
estar aqui comemorando com vocês o dia dedicado a mulher afro-caribenha e
latina porque as mulheres negras representam a possibilidade da
esperança do futuro.
Se depois de estar com certas pessoas, você se sente sem energia e desgastado, a pessoa altera a voz para falar com voce, tenta manipular situações, lhe desrespeita e critica tudo o que voce faz; cuidado, ela pode ser uma pessoa tóxica.
Pode ser que você esteja cercado de pessoas que constantemente
criticam seu modo de agir, o sufoquem com suas carências e necessidades,
critiquem seus pontos de vista , aproveitando qualquer oportunidade
para atacar sua autoestima. Essas pessoas têm a mira apontada para a sua
vulnerabilidade. Podem agir sutilmente, disfarçando suas estratégias de
ataque. Ou, se colocam ostensivamente, agredindo o outro com palavras e
atos.
Todos nós em alguma parte da nossa vida já fomos confrontados a nos
relacionar, quer seja por vontade própria ou não, com pessoas tóxicas
através do trabalho, das amizades, ou por vezes em termos emocionais e
familiares. Os tóxicos podem ser muito simpáticos, muito sedutores até
conquistarem a pessoa. Existe no fundo uma conquista, um namoro, uma
sedução. A pessoa tóxica não está bem com ela própria, logo sutilmente
ela/ele começa a minar a auto estima do outro, são sangue sugas de
energias.
Elas podem estar doentes, extremamente preocupadas, ou mesmo sentindo
a falta daquilo de que necessitam em termos de amor e apoio emocional.
Pessoas tóxicas podem ser angustiadas, depressivas, ou mesmo mentalmente
doentes, mas ainda precisam diferençar o problema real delas da maneira
como se comportam em relação a você. Uma coisa é certa um toxico é um invejoso, um doente que não fará falta nenhuma a sua vida.
A pessoa tóxica está sempre a desvalorizar o que você é, seja
fisicamente, mentalmente profissionalmente, sempre a minar a sua energia
com observações sútis muito desagradáveis. O tóxico tenta sempre chamar
atenção sobre si, é inconveniente, dá opiniões sem ninguém pedir.
É manipulador, é instável e inseguro e tenta incutir a insegurança no
outro. É uma forma de se sentir melhor com a sua própria infelicidade. Os tóxicos são controladores, sabem sempre tudo sobre tudo e nunca dão a oportunidade de o outro manifestar a opinião.
Os tóxicos são sempre vítimas seja do chefe, da mãe ou da família que
nunca o amaram, no fundo, o tóxico nunca tem culpa de nada. Os tóxicos são destrutivos porque não respeitam os espaço dos outros, impondo à força, a sua presença.
Se você estiver tentado criar para si mesmo, uma boa maneira é
começar a avaliar o comportamento das pessoas ao seu redor, e ter a
certeza que não apresentam comportamentos tóxicos.
Comportamentos tóxicos considerados desagradáveis, que se propagem negativamente no meio ambiente provocando distúrbios sociais. Em termos relacionais torna-se difícil a interação humana, o caos
impera. Deve-se manter-se distante e retirar-se estrategicamente quando
alguém apresentar comportamentos tóxicos de maneira consistente.
Como anular essas energias Quando você se sentir extremamente sobrecarregado, encoste-se de
costas à uma árvore e a abrace “por trás” e fique assim por alguns
minutos, o suficiente para sentir-se melhor. Ao contrário, quando você se sentir esgotado, cansado, exausto,
triste, melancólico, deprimido, sem forças, abrace a árvore de frente,
por alguns minutos, Sinta a energia amorosa e carinhosa, sinta-se
fortalecido e energizado, com capacidade indefinível de amar e aceitar
as coisas individualmente, sinta o poder do amor da Natureza e do seu
próprio Amor a si mesmo.
Você também pode andar com os pés descalços e fortalecer seus laços
com a Terra (na areia da praia, na grama de casa, do parque, na terra,
qualquer lugar, desde que seja solo nu, sem piso ou qualquer outro
revestimento artificial ou sintético. Estabelecer e manter relacionamentos saudáveis é uma construção que
demanda investimento de energia. Dar e receber é um dos princípios
fundamentais das relações gratificantes.
Portanto, escolha suas companhias cuidadosamente. E lembre-se que os
relacionamentos que mantém com outros, refletem o seu relacionamento com
você.
Acompanhem a escolha e classificação e façam seus comentários, meninas:
Passei o último ano acompanhando várias mulheres e coletivos femininos
incríveis dentro e fora do Brasil, na área das artes e entretenimento, e
decidi que este é o momento de reunir esses nomes e apresentá-los à
Vertigem. Após uma difícil escolha, no melhor estilo “A Escolha de
Sofia” (filme dramalhão icônico de 1982, que deu o primeiro Oscar de
melhor atriz à espetacular Meryl Streep), resolvi que estas são as oito
mulheres que vão dar muito o que falar ao longo de 2017. Para cada uma
delas, tracei um perfil que servirá de introdução às mentes brilhantes
das mulheres que compõem este grupo totalmente heterogêneo, formando um
mosaico de idades, raças, profissões e experiências. Algumas já são
famosas, outras nem tanto. Em comum, todas reúnem talento, criatividade,
perseverança, inteligência e muita garra. Mulheres que vêm fazendo a
diferença no mundo. Venham conhecer estas mulheres que causarão vertigem
em 2017!
A fotógrafa e artista visual carioca Angélica Dass (Foto: Divulgação) Angélica Dass é uma fotografa e artista visual carioca radicada em
Madri, capital da Espanha, há mais de 10 anos, para onde foi
inicialmente para trabalhar como estagiária de um museu espanhol.
Formada em Belas Artes pela UFRJ, Angélica, durante os seus primeiros
anos na Espanha, criou junto com outros amigos brasileiros espalhados
pelo mundo, o cultuado blog ‘Cajon Desastre’ (que em português significa
algo como “gaveta bagunçada”), onde cada colaborador escrevia sobre
moda, cinema, arquitetura, artes, design e comportamento, sempre sob o
viés do que de melhor acontecia em cada capital do mundo onde cada um
deles se encontrava. Depois de um tempo, surgiu a ideia do “Humane”, seu
mais ambicioso projeto,
que a tem levado para exposições e palestras nos quatro cantos do mundo,
fazendo dela uma das artistas visuais brasileiras de maior renome e
prestígio internacionais do momento. Mesmo assim, o nome e o trabalho de
Angélica ainda não são muito conhecidos no Brasil. Em “Humane”, a ideia
é criar um inventário de “pantones humanos”, catalogando, assim, todos
os tons de pele possíveis e imagináveis. Para isso, Angélica já
fotografou mais de três mil pessoas em mais de 13 países, até agora. A
jornada foi iniciada em 2012 e não tem data para acabar. A ideia inicial
surgiu logo quando ela conheceu seu ex-marido, um físico espanhol “com
pele de lagosta queimada do sol” e se viu obrigada a responder perguntas
esdrúxulas sobre qual seria a cor do filho deles. Daí em diante, a
artista teve a genial ideia de fotografar sua família e ela mesma. A mãe
de Angélica é uma negra descendente de índios e seu pai, também negro,
foi adotado por uma família de brancos no Rio. Em seguida, a artista
passou a registrar seus amigos e rapidamente, passou a fotografar
desconhecidos. Os cliques sempre sem camisa e em 3×4 com fundo branco
acontecem em um pequeno estúdio portátil que ela carrega mundo afora.
Depois, a artista recorta um pedaço da ponta do nariz de cada
fotografado, cuja cor é usada como fundo de cada foto. Sob cada imagem
ela inclui ainda o número da cor de referência retirada da paleta
industrial Pantone, tida como a bíblia das cores. Após criar seu Tumbrl e
uma página para divulgar as fotos do projeto “Humane” no Facebook, os
convites começaram a chegar rapidamente e logo, Angélica já estava
expondo os resultados em grandes galerias, museus e praças públicas pelo
mundo, como aconteceu em São Paulo, em 2013, numa praça do centro da
cidade. Se as cores nunca foram um problema em sua família multiétnica,
Angélica percebeu cedo que o mesmo não se aplicava da porta de casa para
fora. “O Brasil é um dos piores lugares do planeta para se nascer
negro. Há um racismo institucionalizado e escondido”, afirmou ela à
revista Serafina, da Folha de São Paulo, para onde concedeu uma
entrevista de quatro páginas logo após dar uma palestra que emocionou a
audiência do TED, em Vancouver, onde foi aplaudida de pé. Desde
dezembro, Angélica está passando férias no Rio de Janeiro, mas, nesse
meio tempo, já teve que se deslocar a trabalho. Foi convidada para ser
uma das líderes culturais do Fórum Econômico Mundial de Davos, que
convocou artistas de grande relevância internacional para inspirar as
lideranças mundiais com seus trabalhos e engajamento. Estranhamente, não
houve uma menção de sua participação em Davos na mídia brasileira. Em
março, antes de regressar a Madri das férias no Rio de Janeiro, Angélica
irá a Buenos Aires para participar com o “Humane” do FOLA – Fototeca
Latinoamericana.
A cineasta carioca Sabrina Fidalgo (Foto: Divulgação) Multiartista, a carioca Sabrina Fidalgo é diretora de cinema,
roteirista, produtora, atriz e, de vez em quando, assume a persona “Lady
Sabrina Queen” em suas performances como DJ nas festas mais descoladas
do Rio. “Mas meio que aposentei a LSQ (as suas inicias de DJ) por ora”,
avisa. Seu posicionamento “anti-racialização” dos diretores negros no
cinema brasileiro é bem conhecido e costuma provocar acalorados debates.
Para ela, “aceitar e vestir os papéis oferecidos pelo racismo
institucional sem o mínimo de questionamento e ainda prestar-se a servir
de ‘token’ apenas para
receber uma rebarba do sistema, ocupando, assim, um nicho racial, sem
que isso implique em alguma corrente ou movimento estético, é abaixar
demais a cabeça, sem o mínimo de consciência. E isso é algo que não
combina em nada comigo. Temos que vencer o machismo, o racismo e as
barreiras impostas no cinema brasileiro, sim. Mas o objetivo é a
paridade em todos os sentidos e não, o recebimento de reles migalhas”. A
diretora da cultuada ficção-científica, “Personal Vivator”, curta
afro-futurista estrelado por Fabrício Boliveira, é considerada uma das
grandes promessas femininas do cinema e já teve seus filmes exibidos em
mais de 50 festivais nacionais e internacionais, em lugares que vão de
Tóquio, passando por Maputo, chegando até Los Angeles, entre muitos
outros. Em novembro último, Sabrina lançou seu sexto e mais recente
trabalho no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, o Curta
Cinema, a obra-prima “Rainha”, uma fábula superpotente de 30 minutos
sobre o carnaval filmado em preto e branco, que conta a saga de uma
jovem negra e periférica (interpretada pela atriz e musa da diretora,
Ana Flavia Cavalcanti) que luta para realizar o sonho de se tornar a
rainha da bateria da escola de samba de sua comunidade. A cineasta
realizou “Rainha” após ter sido a diretora convidada e escolhida pelo
comitê do edital de curtas “Fábrica de Cinema”, financiado pelo Polo
Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais. Com isso, o projeto também
foi contemplado com o patrocínio da empresa Energisa. E antes mesmo do
encerramento da última edição do festival carioca, o filme já havia sido
aclamado pela crítica especializada como um dos maiores ensaios
estético-antropológicos sobre o Carnaval no cinema e recebido mais
quatro prêmios de outro festival, o Ver e Fazer Filmes. Ao final do
Curta Cinema, “Rainha” foi laureado com o prêmio de melhor filme pelo
Júri Popular. Filha única de Ubirajara Fidalgo, dramaturgo negro
pioneiro e criador do T.E.P.R.O.N (Teatro Profissional do Negro) e da
produtora, cenógrafa e cofundadora do T.E.P.R.O.N, Alzira Fidalgo,
Sabrina cresceu em um ambiente cercado por arte, política e militância.
Começou a atuar na companhia dos pais ainda aos dois anos de idade como
mascote do T.E.P.R.O.N e, além disso, cresceu fazendo participações
esporádicas em comerciais, filmes e programas de TV. Aos 21 anos, trocou
o curso de Artes-Cênicas na Uni-Rio por um curso alemão em Munique,
Alemanha. Estudou cinema e documentário na Escola de TV e Cinema de
Munique e, em seguida, após participar de um disputado concurso com
vários alunos europeus, foi a única latino-americana a ganhar uma bolsa
integral para cursar especialização em roteiro na Universidade de
Córdoba, na Espanha. Àquela altura, a jovem realizadora já estagiava em
diferentes funções nas produções da escola e em outras produções
independentes europeias e, em pouco tempo, realizava os seus primeiros
curtas. Ao ser premiada pelo Lateinamerika-Institut da Universidade
Livre de Berlim, pelo curta “Black Berlim”, Sabrina retornou de vez ao
Brasil e abriu sua própria produtora independente junto com sua mãe, a
“Fidalgo Produções”, com a qual realizou, até agora, seis curtas, um
documentário musical de média-metragem para a TV e vários videoclipes.
No final de 2016, Sabrina ganhou a primeira retrospectiva de sua
carreira promovida pelo Centro de Artes da UFF, onde todos os seus
curtas foram exibidos no Cine Arte da universidade em Niterói, Rio de
Janeiro. Uma nova retrospectiva de sua obra ocorrerá, desta vez na
Central de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação da UFRJ,
prevista para acontecer no mês de abril. Enquanto isso, a cineasta
ocupa-se com a carreira nos festivais e mostras do recém-lançado
“Rainha” e trabalha em uma série de outros projetos para o cinema,
teatro e TV, entre eles, o maior de todos os seus projetos, o seu
primeiro longa de ficção. Todos os projetos terão a participação de seu
“Iansamble” (mistura de Iansã com “emsamble”, que quer dizer grupo, em
francês) o mesmo grupo de atores e técnicos com os quais vem trabalhando
desde “Personal Vivator”.
A filósofa e ativista do feminismo negro Djamila Ribeiro (Foto: Divulgação) Feminista brasileira, pesquisadora e mestre em Filosofia Política
pela Universidade Federal de São Paulo, Djamila Ribeiro foi
secretária-adjunta de Direitos Humanos e da Cidadania da cidade de São
Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad. Virou a maior
referência do feminismo e do movimento negro no Brasil graças aos seus
posicionamentos firmes e didáticos como colunista da revista Carta
Capital, aos seus textões no Facebook e a maciça participação em debates
por todo o Brasil. Arrasadora, Djamila, que também é dona de um
invejável carisma, consegue nocautear seus interlocutores sempre com
respostas sensatas sobre questões que envolvem a situação da mulher
negra brasileira. Suas recentes aparições em programas televisivos
aumentaram sua popularidade por todo o país, o que a levou a estrear
como apresentadora de seu próprio ‘talk-show’, o “Programa de
Entrevista”, que debutará este ano no Canal de TV a cabo, Futura.
Djamila nasceu em Santos, cidade do litoral de São Paulo, e ainda na
infância entrou em contato com a militância política por influência de
seu pai, um estivador que era fazia parte do movimento negro, comunista e
autodidata, que mesmo com pouco estudo formal, era um erudito e
mantinha uma grande biblioteca em casa. Ela é a mais nova de dois irmãos
e uma irmã, e guarda memórias de uma infância feliz, com os cabelos
sendo trançados por mãe e avó, aulas de xadrez na União Cultural
Brasil-União Soviética (foi medalhista de bronze, aos oito anos, em um
campeonato de xadrez santista), tardes no Partido Comunista de Santos,
que o pai fundou ao lado de outros militantes. No entanto, já na
primeira série do Ensino Fundamental (o equivalente atual ao segundo
ano), o racismo se tornou cada vez mais presente em sua vida, por meio
de xingamentos de colegas de classe, exclusão, falta de preparo de
profissionais de educação para lidar com a situação e outras questões, o
que foi minando sua confiança em si mesma. Aos 18 anos, envolveu-se com
a Casa da Cultura da Mulher Negra, uma organização não-governamental
santista, e passou a mergulhar cada vez mais em temas relacionados a
gênero e raça. Djamila, que se mudou recentemente de Santos para um
apartamento em São Paulo, ainda consegue conciliar tantos compromissos
profissionais com a maternidade. É mãe de uma menina de 11 anos.
A cineasta americana Ava DuVernay (Foto: Divulgação) A americana Ava DuVernay é diretora, roteirista, produtora,
publicitária e comanda a distribuidora de filmes, Array, na Califórnia.
Ava é considerada, hoje, uma das mais famosas e poderosas diretoras
mulheres do cinema independente norte-americano e seu nome lidera sempre
o topo das listas das maiores e mais promissoras realizadoras do cinema
mundial. Em 2012, Ava foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio de
melhor direção no festival Sundance com o seu segundo longa, “The Middle
of Nowhere”, a primeira mulher negra a concorrer ao Globo de Ouro de
melhor diretora e ao Oscar de melhor filme e melhor direção com o seu
aclamado longa “Selma – A Marcha da Liberdade”, sobre a marcha liderada
por Martin Luther King contra a segregação racial e pela defesa dos
direitos da comunidade negra nos EUA. No próximo dia 28, voltará ao
Kodak Theater outra vez, desta vez concorrendo com seu novo filme, “A
13ª Emenda”, produzido pelo Netflix, na categoria melhor documentário. O
documentário já é tido como o favorito nos bolões do Oscar e, caso a
profecia se concretize, Ava será, de fato, a primeira mulher negra
diretora a ganhar uma estatueta na história do Oscar. Em “A 13ª Emenda”,
Ava propõe um amplo debate sobre a situação racial nos EUA em plena era
Trump, traçando um paralelo entre a situação penal americana e o fim da
escravatura nos Estados Unidos. Nessa época, havia uma grande
necessidade de mão-de-obra barata, então, a solução foi acusar parte
dessas pessoas recém-libertadas por crimes banais como vadiagem,
levando-as a trabalhar sob custódia. Ava estabelece uma relação direta
entre a abolição da escravatura, a segregação racial e a guerra contra o
crime e contra as drogas. O resultado é um fenômeno de encarceramento
em massa num país onde as prisões são um grande negócio. Ava é uma das
mais importantes vozes no debate sobre diversidade em Hollywood, e está
pondo a mão na massa para mudar os rumos da indústria cinematográfica.
Um exemplo disso é o trabalho que ela desenvolve com a sua
distribuidora, cujo foco é distribuir trabalhos de cineastas mulheres e
de minorias, dando visibilidade a obras que talvez jamais viriam a
público. Ao L.A. Times, Ava disse: “Eles estão se perguntando: ‘Por que
fazer algo que ninguém vai assistir?’. Há um desrespeito inerente à
distribuição. Há uma segregação cinematográfica em como os filmes são ou
não são vistos. O que estamos dizendo é que não vamos mais depender
disso a partir de agora. A Array vai atuar não apenas nas salas de
cinema, mas também em plataformas como o Netflix. O consumidor está
decidindo o que quer ver, quando e como quer ver, e cineastas estão cada
vez mais cientes disso, e aceitando o fato de que o sucesso não depende
de ter o filme no cinema tradicional”. Ava DuVernay é uma das
arquitetas dos novos tempos e está fazendo história nesse romper de
barreiras que dará à muita gente um espaço precioso na cultura
audiovisual.