Com tradução de Raquel Souza e transcrição feitas pelas ativistas Carol Correia e Monyque Assis, leia a palestra “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo” de Angela Davis, no Julho das Pretas, em 25 de julho de 2017, no salão nobre da reitoria de UFBA, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres Afrolatinas e Caribenhas
Introdução da palestrante [palavras da própria gravação]
Angela
Davis é filósofa, ativista feminista e defensora dos direitos civis da
população negra. Fez parte do Panteras Negras e do Partido Comunista dos
Estados Unidos. Em 1970, foi perseguida e presa. Ativistas tomaram as
ruas exigindo: “Libertem Angela Davis!”. Publicou em 1981 uma de suas
mais importantes obras: “Mulheres, Raça e Classe”. O livro transmite sua
militância em defesa das políticas de igualdade de gênero e combate ao
racismo. Considera que raça, classe e gênero estão entrelaçados e que
juntos podem criar diferentes tipos de opressão.
Palestra em homenagem ao dia 25 de julho, Dia da Mulher Afro-Latina e Caribenha.
Boa
noite. Eu não consigo dizer a vocês quão emocionada eu estou em estar
na presença de vocês essa noite. Isso certamente é como deveria ser a
aparência de uma Universidade. Eu gostaria de agradecer Ângela
Figueiredo, a Odara, ao Centro de Estudos de Gênero da UFBA, por me
convidar para vir aqui e homenagear o dia 25 de julho. Essa é minha
quarta visita a Bahia e a minha sexta visita ao Brasil e nesse momento
eu me sinto extremamente envergonhada por ainda não ter aprendido
português. Então esse será meu próximo projeto!
Eu estou muito feliz de estar aqui celebrando o Dia de Mulheres Afro-Latinas e Caribenhas e eu sei que aqui esse dia é conhecido como Julho das Pretas.
Então eu estou muitíssimo entusiasmada de estar aqui no Brasil,
especialmente porque eu tenho acompanhado recentes situações dentro do
Movimento de Mulheres Negras e me parece que, nesse momento
contemporâneo, as mulheres negras brasileiras representam o futuro do
Movimento.
Mulheres
negras no Brasil têm uma história bastante longa em envolvimento em
lutas em prol da liberdade. Como tem sido simbolizada pela continuidade
da Irmandade da Boa Morte. O conceito de Boa Morte em si nos faz
imaginar um futuro melhor. Isso me leva a reconhecer as amplas
contribuições das mulheres negras no Brasil e na Bahia em termos da
cultura religiosa desse local. Durante essa visita eu fui honrada com a
possibilidade de atender uma oficina dentro da Irmandade da Boa Morte.
E,
também, em de passar tempo com Dona Dalva com quem tive a oportunidade
de aprender sobre o papel de Dona Dalva em preservar o samba de roda e
ela recebeu um diploma de doutorado honoris causa
pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Eu gostaria de
ressaltar que alguns anos atrás fui honrada pelo convite de conhecer o
terreiro e de me encontrar com Mãe Estela. E elas me
disseram sobre seus esforços de preservar a cultura e a religiosidade
dentro das tradições baianas e que as mulheres negras estavam no cerne
dessas tradições.
Como
foi dito por Dulce Pereira, eu já venho ao Brasil desde 1997 e eu nunca
irei me esquecer daquele encontro que ocorreu em 1997 em São Luís no
Maranhão. Tive a oportunidade de encontrar Luísa Barros pela primeira
vez e o espírito delacontinua a viver e a estar aqui
presente conosco.
E
também encontrei pela primeira vez, Vilma Reis e tantas outras mulheres
negras maravilhosas, em qual eu continuo a me encontrar todas as vezes
em que venho ao Brasil.
A
atual visita organizada pela Professora Doutora Ângela Figueiredo foi
um encontro organizado em conexão a uma reunião mais ampla, a um curso
organizado em Cachoeira sobre Feminismo Negro Decolonial. E eu agradeço a
Ângela, em que toda vez que alguém chama seu nome [de Ângela
Figueiredo], eu também olho, mas eu agradeço a ela por ter me convidado
de novo e de novo para vir a Bahia. As pessoas me perguntam “você já foi
ao Rio de Janeiro”, eu digo “não”; “você já foi a São Paulo?”, eu digo
“não, mas eu já fui a Salvador, Bahia, várias e várias vezes”.
Eu
menciono essa escolha porque ela reuniu estudantes negras do Brasil, da
América do Sul, da África do Sul, do Canadá, dos Estados Unidos e do
Porto Rico e, ao fazê-lo, produzir concepções importantes que poderiam
não ter sido disponibilizadas, se esse encontro não fosse corrido. Todos
nós que tivemos a oportunidade de virmos de outras partes
do mundo, temos muita sorte de estarmos aqui nesse momento, onde o
ativismo de mulheres negras está elevado; a gente está pela gente.
E como já foi dito e reiterado várias vezes, o movimento social liderado por mulheres negras é o movimento social mais importante do Brasil.
Após
o Golpe antidemocrático que resultou na retirada de Dilma Rousseff,
após a ocorrência desse golpe de Estado, as mulheres negras criaram a
melhor esperança para esse país. Muitas de nós nos Estados Unidos
estávamos muito entusiasmadas acompanhando a Marcha das Mulheres Negras
no Brasil em novembro de 2015 e nós continuamos a sentir as
reverberações dessa marcha e estamos no Julho das Pretas.
Este
é um momento difícil para o nosso planeta por vários motivos,
principalmente em função de termos uma guinada para a
Direita na Europa, nos Estados Unidos, na América do Sul, especialmente
aqui no Brasil.
Eu
não tenho nem como explicar para vocês qual é a sensação de
morar nos Estados Unidos, no qual Donald Trump é o presidente, mas não
devemos nos esquecer que um dia após a posse dele, o
Movimento de Mulheres trouxe para Washington três vezes mais pessoas do
que o número que atendeu a cerimônia de posse de Donald Trump. Estima-se
que mais de 5 milhões de pessoas participaram na Marcha das Mulheres
contra Trump por todo o mundo, até na Antártica.
A
Marcha das Mulheres em Washington foi liderada por mulheres negras,
latinas, asiáticas, indígenas, muçulmanas e também mulheres brancas. Nós
nos encontramos em Washington e por todo o mundo de todos os países para
dizer que: "Nós resistiremos, nós resistiremos! Todos os dias da
presidência de Donald Trump, nós resistiremos! Nós resistiremos ao
racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado. Nós
resistiremos a islamofobia e ao preconceito contra pessoas portadoras de
deficiências físicas e nós defenderemos o meio ambiente dos ataques
insistentes e predatórios do capital."
Aqui
em Salvador, no dia 25 de julho, o dia dedicado às mulheres negras na
América Latina e no Caribe, dizemos de forma ainda mais forte, com a
força e o poder das mulheres negras nessa região: Nós resistiremos! Nós
sabemos que as transformações históricas sempre começam com as pessoas,
essa é a mensagem do Movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matter), quando
as vidas negras começarem a realmente ter importância, isso significará
que todas as vidas têm importância. E podemos dizer também,
especificamente, que quando as vidas das mulheres negras importam, então
o mundo será transformado e nós teremos a certeza, então, que todas as
vidas importarão. As lutas das mulheres negras estão conectadas às lutas de pessoas oprimidas em todas as partes.
Para
aqueles que dizem não às políticas anti-imigração de Donald Trump e a
construção de seu muro; para aqueles que dizem não ao apartheid e
para o muro que está separando a ocupação Palestina — Israel; para
aqueles que dizem não ao racismo e a misoginia na Colômbia; para aqueles
que dizem não ao sistema de castas na Índia; e nós estamos em
solidariedade com as mulheres dalit e suas comunidades; para aquelas que
dizem não à violência cotidiana, à violência doméstica eà violência
íntima, que incidem sobre as mulheres negras e que geralmente são
perpetuadas por homens negros.
Assim
como, finalmente tem sido reconhecido as mulheres negras pelo trabalho
que sempre desenvolveram em manter as chamas de liberdade ardentes, a
liderança das mulheres negras nos movimentos antirracistas tem
finalmente sido reconhecida, não é o tipo de liderança que tenta dar
visibilidade ou poder a indivíduos, não é o tipo de liderança que é
baseado em carisma, o individualismo masculino carismático, mas é o tipo
de liderança que enfatiza as intervenções coletivas e apoia as
comunidades que estão em luta.
"A
liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva"
A
liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva. Tanto no Brasil
quanto nos Estados Unidos, reconhecemos a importância de confrontar a
violência do Estado. Enquanto o racismo está saturando todas as
nossas instituições, a questão da moradia, do emprego, da assistência de
saúde e acesso à educação e, que pode ser mais dramaticamente, de
policiamento e punição.
Mulheres
negras têm propiciado liderança contra a violência estatal, contra a
violência policial, contra o racismo no sistema carcerário, tanto nos
Estados Unidos quanto no Brasil. Eu tenho falado aqui sobre a liderança
das mulheres negras, mas eu deveria estar me referindo a liderança
feminista negra; enquanto é necessário enfatizar a categoria de mulheres
negras, pela perspectiva de gênero e de raça, nós reconhecemos que
também estamos estão aplicados nisso: classe, sexualidade, capacidade e o
gênero para além do convencional binário e que nosso foco é nas
mulheres negras empobrecidas, incluindo as mulheres negras que estão
encarceradas, incluindo mulheres negras gays, incluindo mulheres negras
trans, incluindo mulheres negras portadoras de deficiência.
Mas
também estamos conscientes de que não estamos focando na mulher negra
através de um arcabouço separatista, porque as mulheres negras também
estão se engajando nos movimentos de outros grupos; as vezes ao ponto de
elas mesmas serem ignoradas nesse movimento.
As
mulheres negras estão entre o grupo mais ignorados, subjugados e também
os mais atacados no planeta. As mulheres negras estão entre os grupos
mais não-libertos do mundo, mas ao mesmo tempo as mulheres negras têm
uma trajetória que perpassa barreiras geográficas e da nação de sempre
manter a esperança da liberdade viva.
As
mulheres negras representam tanto a falta de liberdade e, ao mesmo
tempo, as mesmas consistentes nessa tradição de que foi rompida pela
luta à liberdade, desde o tempo da colonização, da escravidão e até o
presente.
Lembramo-nos
de Rosa Parks que sempre enfatizou que ela gostaria de ser relembrada
como mulher que queria ser livre, de tal forma que todas as pessoas
pudessem ser livres. Lembre-nos de Lilian Ngoyi, uma das mulheres que
foram líderes do Movimento Anti-Passe, na África do Sul, que disse em
1956, entre todas as suas outras irmãs “agora que vocês atingiram as
mulheres, você acionou um trator e você será esmagado!”. Carolina Maria
de Jesus nos lembrou que a fome deveria nos levar a refletir sobre as
crianças e sobre o futuro. E muito tempo antes do conceito de
interseccionalidade ter sido utilizado, Lélia González não apenas
insistia que não só deveríamos compreender que a completa inter-relação
de raça, classe e gênero; mas insistia também que deveríamos ter em
mente as nossas conexões, os nossos elos com a comunidade indígena; as
conexões com os povos indígenas e os povos negros. E essa é uma das
lições que nós dos Estados Unidos precisamos aprender com a história do
feminismo negro no Brasil.
O que me leva a minha próxima questão: Existem
geralmente a pressuposição que a forma mais avançada de feminismo negro
será encontrada nos Estados Unidos. É verdade que há muitas figuras
bastantes conhecidas norte-americanas que são associadas ao
desenvolvimento do feminismo negro. Mas deveria ser reconhecido que isso
não se dá pelo fato de sermos mais avançados; isso seria uma
pressuposição imperialista e colonial. Mas na verdade, isso ocorre
porque as ideias de lá, sejam elas conservadoras ou radicais, viajam e
circulam com muita mais facilidade do que as ideias que emergem e
emanam, por exemplo, daqui do Brasil. Então, eu não posso me levar tão a
sério assim.
No
que diz respeito a mim, eu sempre gosto de apontar que ninguém jamais
teria reconhecido meu nome, se as pessoas de todo o mundo não tivessem
se organizado e se juntaram a luta, exigindo a minha liberdade no início
dos anos 1970. É verdade que cada uma dessas viagens que fiz ao Brasil
tem me trazido muitos insights, muitas perspectivas novas.
Desde
a primeira conferência organizada por Leila Gonzáles em 1997 no
Maranhão, até a escola do feminismo negro descolonial que participei
agora recentemente em Cachoeira. E portanto, a partir disso, passo a
questionar o meu papel em trazer o conhecimento feminista negro para o
Brasil. Passei a perceber que nós nos Estados Unidos somos aquelas que
necessitamos aprender com o conhecimento e os insights que são produzidos pela longa história de luta feminista negra no brasil. Nós precisamos conhecer sobre o poder Feminista Negro
preservado dentro da tradição do Candomblé. Nós precisamos aprender
sobre os movimentos bem sucedidos organizados por mulheres negras
trabalhadoras domésticas aqui na Bahia e no Brasil.
Eu
tive o privilégio de conhecer Marinalva Barbosa que é a presidente do
Movimento do Sindicato de trabalhadoras domésticas aqui na Bahia, temos
muito a aprender com o trabalho dessas mulheres porque nós ainda não
conseguimos nos organizar de maneira bem sucedida através de sindicatos
dessa categoria nos Estados Unidos.
Apesar
do fato de que mulheres negras que trabalhavam como lavadores e fizeram
uma greve em 1988 em Atlanta na Geórgia, mesmo apesar do fato de que
nos anos 1920 e nos anos 1950 houveram esforços que não foram bem
sucedidos de organizar sindicatos dessa categoria. Não é uma
coincidência que Alicia Garza, uma das fundadoras do movimento Black Lives Matter, mesmo assim ainda não temos um sindicato de trabalhadoras domesticas.
Deixe-me
compartilhar com vocês algumas palavras sobre o complexo industrial
prisional; está correto afirmar que o Brasil tem a quarta população
carcerária do mundo. A quarta, sendo a primeira EUA, Rússia e China.
Agora, os EUA estão comportando 1/4 de toda a população carcerária do
mundo.
E
se olhamos para a população carcerária feminina, 1/3 dessa população
está sendo encarcerada nos EUA. Se tivéssemos tempo, essa noite
poderíamos falar mais aprofundadamente sobre o fato de que de essa
população carcerária reflete o tipo de sistema capitalista global e como
esse sistema negligencia as necessidades humanas.
Populações
que não tem acesso à educação, a moradia ou ao sistema de saúde ou a
quaisquer outros serviços que são necessários a vida humana. A rede
carcerária mundial representa um vasto depósito de lixo, nos quais
pessoas que não tem importância são depositadas, descartadas. As pessoas
que tem a menor importância são as pessoas negras, sul-americanos,
muçulmanos, pessoas de descendência indígena. Quando nós trabalhamos e
lutamos contra violência do Estado e como ela se manifesta através das
práticas policiais e das práticas de encarceramento, nós dizemos que as
pessoas negras importam, que as pessoas de descendência indígena
importam.
A
professora Denise Carrascosa, que é professora aqui na Universidade
Federal da Bahia, que tem liderado um projeto de mulheres dentro do
sistema carcerário, um projeto teatral dentro do sistema carcerário,
chamado corpos indóceis e mentes livres,
é um projeto entusiasmante que reúne mulheres encarceradas de tal forma
que elas possam dramatizar suas realidades e suas vidas., esses são os
tipos de projetos inovadores que produzem conhecimentos feministas sobre
a relação entre a liberdade e a não-liberdade.
E
eu acabei de ser informada que a professora Carrascosa tem sido
impedida de entrar nesse Complexo Prisional Feminino na Bahia porque ela
se juntou a outras encarceradas em protesto contra o tratamento
punitivo de uma mulher que foi trancada e a ela foi negada medicação
necessária pós cirúrgicos. E em função da professora Carrascosa ter
levantado sua voz, o seu projeto que já dura 7 anos foi barrado.
Então,
eu gostaria de perguntar a vocês o que vocês farão em relação a essa
situação? Eu gostaria de sugerir que vocês começassem a pedir a cada uma
das pessoas que estão presentes aqui nesse auditório para assinar um
abaixo-assinado exigindo que esse projeto seja reincorporado. Sabemos
que nos últimos dez anos houve um aumento de 500% na taxa de
encarceramento de mulheres e 2/3 de todas as mulheres que estão
encarceradas no Brasil são mulheres negras.
Então, isso me leva aos meus dois últimos pontos em conclusão.
Um
deles diz respeito a reprodução da violência, nós não podemos excluir a
violência doméstica, a violência no âmbito íntimo e a violência intima
das nossas teorias sobre violência estatal e a violência institucional.
Frequentemente
agimos como se um não tivesse nada a ver com o outro e que se as
mulheres negras são vítimas dessa violência cotidiana que é infligida
por seus maridos e seus namorados, isso significa simplesmente que os
homens negros e os rapazes negros são violentos.
Mas
como é que podemos pensar isso? Nós precisamos nos perguntar qual é a
fonte dessa violência que prejudica e que fere tantas mulheres negras?
Qual a relação dessa violência com a violência policial e a violência do
sistema carcerário? Se essa violência do âmbito doméstico esta
simbioticamente conectada com a violência institucional e a violência
estatal?
Isso
significa que nós não conseguiremos erradicar a violência doméstica
simplesmente por enviar aqueles que perpetuam a violência doméstica para
o sistema carcerário. Isso significa que se queremos, se desejamos
erradicar as formas mais endêmicas de violência individual na face da
terra, devemos também eliminar as fontes institucionais de violência.
Esse
é um chamado pela abolição do encarceramento como forma dominante de
punição. Este é um chamado para pensarmos novas formas de abordar
aqueles que são feridos a violência. Esta é a chamada feminista negra
para formas de justiças descoloniais que não sejam de retribuição
vingativa.
Meu
último ponto será breve e diz respeito aos esforços para conter a nossa
resistência. Quando nós resistimos, instituições dominantes e
principalmente o estado tentam nos conter, tentam conter a nossa
resistência. Querem transformar as nossas lutas em estratégias para
consolidação do estado nação.
O
movimento de direitos civis agora é aclamado pelo Estado ou
reivindicado pelo estado como central em suas narrativas sobre a
democracia. Mas o movimento Black LIves Matter, principalmente na Era Trump é vivenciado ou narrado como um ataque.
No
Brasil, agora que o mito na democracia racial foi completamente
exposto, a pergunta agora diz respeito à se o movimento de resistência
das mulheres negras pode ser assimilado, então dizemos que a medida que
nos erguemos contra o racismo, nós não estamos reivindicando sermos
inclusas numa sociedade racista.
Se
dizemos não ao heteropatriarcado, então não estamos desejosas de sermos
assimiladas em uma sociedade que é profundamente misógina e
profundamente patriarcal. Se dizemos não a pobreza, nós não queremos ser
contidas dentro de uma estrutura capitalista que valoriza muito mais o
lucro do que os seres humanos.
E
se reconhecemos que aqueles que queriam resolver o problema da
escravidão através da criação de formas mais humanas de escravidão, nós
estamos simplesmente utilizando a lógica do racismo.
Nós
reconhecemos aqueles que estão simplesmente reivindicando a reforma do
sistema policial e a reforma do sistema carcerário, reter se nessas
estruturas racistas ao mesmo tempo em que estão fingindo abordar os
problemas do racismo, é por isso que dizemos não ao feminismo carcerário
e sim ao feminismo abolicionista.
É
por isso que nós convocamos essa solidariedade para além de fronteiras
nacionais e nós enfatizamos que o feminismo radical negro descolonial
reconhece as nossas profundas conexões mesmo à medida que reconhecemos
também as suas contradições.
Então,
afirmamos que a luta para o acesso a água em comunidade quilombolas, no
quilombo Rio dos Macacos, e essa comunidade está sendo assegurada de
forma a colocar o rotulo de todos os membros dessa comunidade como
terroristas, e eu tenho aqui em minhas mãos um apelo que vem da
comunidade do Rio dos Macacos, em termo dos direitos humanos, do acesso à
terra e a água. E eu vou ler essa carta aqui imediatamente, após o
encerramento desse evento, eu lerei essa carta.
Mas
o que eu gostaria de dizer sobre as lutas que estão ocorrendo dentro
dessa comunidade, estão ligadas as reivindicações para a proteção da
água em populações indígenas, por populações indígenas reivindicando
proteção do veneno trazido pelos dutos de petróleo.
E vocês podem estar familiarizadas com a situação da reserva Standing Rocks
em Sioux e essas lutas estão ligadas também aos esforços que ocorrem em
Flent Michigan para expor o envenenamento da água nas comunidades
negras e essa luta também está ligada à luta na qual as comunidades
palestinas estão engajadas para defender seus reservatórios de água que
são constantemente alvo das forças militares de Israel.
Então,
somente através da solidariedade e da luta, nós poderemos preservar o
nosso acesso a água. Eu gostaria de enfatizar a minha felicidade de
estar aqui comemorando com vocês o dia dedicado a mulher afro-caribenha e
latina porque as mulheres negras representam a possibilidade da
esperança do futuro.
Carol Correia é Feminista, Ativista anti-prostituição, Formada em Direito (pós em Constitucional e Processo Penal) e Tradutora.
Carol Correia é Feminista, Ativista anti-prostituição, Formada em Direito (pós em Constitucional e Processo Penal) e Tradutora.